No templo Byodo-in, onde havia famosos monges guerreiros, o “guardião do tesouro budista” morreu numa luta com o famoso espadachim Miyamoto Musashi. O mestre superior convocou, então, todos os monges lanceiros para escolher quem ocuparia o honroso cargo.
– Será o guardião do tesouro budista aquele, dentre vós, que conseguir solucionar o problema que eu vou apresentar – disse o mestre aos discípulos que estavam concentrados no grande salão.
Acto seguinte, o mestre colocou uma mesinha e, sobre ela, fez um lindo arranjo floral.
– Eis o problema! Resolvam!
Todos ficaram olhando a bela ikebana sem entender o que o mestre quis expressar com aquele arranjo, simples, porém de extrema beleza. Então, começou um zunzum de pessoas pensando alto:
– O que significa?
– Qual é o mistério?
– Por que um vaso achatado e uma flor esguia? Seria in (yin) e yô (yang)?
– O que a ikebana está representando?
De repente, um dos discípulos levantou-se empunhando uma lança, foi até o centro do salão e, num gesto rápido, decepou a flor e destruiu o vaso. Depois, voltou ao seu lugar e sentou-se.
– Você é o novo guardião do tesouro budista – disse o mestre. Não importa que o problema seja algo de extrema beleza. Se for um problema, precisa ser eliminado.
Nunca é demais lembrar um pensamento japonês que diz: “Não é possível beber saquê numa xícara cheia de chá; é necessário esvaziar primeiro a xícara, para então enchê-la de saquê”.
PROF. KIBER SITHERC