Esoterismo, Lendas, Mitos, Parapsicologia, Auto-Ajuda. kiber-sitherc@sapo.pt

30
Mar 10

 

                A lenda do Corpo Seco é vulgar em todo o Brasil, pois, dizem que ele passou pela vida semeando malefícios e que matou a própria mãe. Ao morrer, nem Deus nem o Diabo o quiseram, e a própria terra o repeliu enojada de sua carne, e um dia, mirrado, defecado, com a pele engelhada sobre os ossos, da tumba se levantou em obediência ao seu fado, vagueando e assombrando os viventes na calada da noite.

           

            Corpo Seco é uma figura folclórica recorrente principalmente no sudeste brasileiro. Apesar de muito comum no sudeste, há histórias de encontros com um Corpo Seco desde o Paraná até o Amazonas, assim como em alguns países africanos de língua portuguesa.

 

            O Corpo Seco seria um morto-vivo que por ter praticado muitas más ações durante a vida, e agredido ou matado os pais (alguns afirmam que seria só a mãe), ao morrer, teve seu descanso negado. Há um ditado popular que diz que “quem bate na mãe fica com a mão seca”.

 

            Assim o Corpo Seco acaba sendo rejeitado por Deus, pelo Diabo e pela própria terra onde teria sido enterrado. É que, ao ser enterrado, o Corpo Seco é expelido pela terra, aparecendo o morto desenterrado pouco tempo depois do próprio enterro, já com as carnes apodrecidas.

 

            O Corpo Seco não gosta de água, sendo que pode ser isolado se deixado em um lugar do qual para sair se tenha que atravessar um curso d’água.

            Depois de sair do túmulo o Corpo Seco começa a vaguear pelas matas próximas e caminhos, pois para sobreviver tem que se agarrar a uma árvore. Quando se agarra a uma acaba por secá-la. Portanto, se encontrarem uma árvore que secou de repente, sem causa aparente, pode ter sido um Corpo Seco que se agarrou a ela.

  

            Ele costuma vaguear e assombrando os viventes na calada da noite. Certa vez uma pobre mulher, no sertão, apreciadora dos bons guisados de urupês (orelha de pau) vagueava pela mata para colher os apetecidos, quando se deparou caído um pau-piúca, onde abrolhavam os saborosos parasitas, alvos muito alvos como pipocas. Colhia-as quando, no desvendar a parte extrema do madeiro, se tomou de pavor e muito susto ante dois olhos escarninhos que a fitavam, e disparou a correr desorientada sob o riso cachinado do Corpo Seco que pregou à pobre mulher.

 

            Dizem alguns que o Corpo Seco fica junto a caminhos, pois precisa de sangue para continuar “vivo”. Quando passa uma pessoa agarra-a e suga todo o seu sangue (como os vampiros). Se não passar nenhuma pessoa ele acaba por morrer.

 

            Existem muitas lendas sobre os Corpos Secos contadas por todo o Brasil.

            Dizem que no Vale do Paraíba, próximo a Taubaé, em São Paulo. Há um Corpo Seco que assombra os moradores há mais de 40 anos

  

             Este Corpo Seco habita a gruta do Picadão. Um morador local, chamado Geraldo Periquito chegou a afirmar que já viu o Corpo Seco pescando lá perto. Também, segundo Periquito, uma vez passava por esta trilha uma comitiva de uns 50 cavaleiros que seguia para uma festa de casamento. Era umas 10 horas da noite quando      os cavaleiros cruzavam o trecho assombrado da trilha. Periquito diz que quando passava ouviu uma voz dizendo:

            - Dá a garupa que eu também vou.

            Periquito não pensou duas vezes, saiu correndo a galope.

            Conta este morador local que a alma penada tem nome conhecido. Seu nome em vida era Zé Maximiano, e Periquito até trabalhou com um sobrinho do Corpo Seco numa roça, e o conheceu quando era pequeno. Dizem que virou Corpo Seco porque batia nos pais. Geraldo Periquito conheceu um amigo do Zé Maximiano, Pedro Vicente, que foi responsável em transportar o seu corpo para um lugar seguro.

 

            Ao que se conta Zé morreu assassinado, e foi enterrado no cemitério em Monteiro Lobato. Mas a terra expelia o defunto, que mesmo que voltassem a enterrar era de novo expelido por ela. Então Pedro Vicente foi designado para levar o corpo do Zé até uma gruta afastada e deixá-lo por lá. Levou Pedro Vicente, num balaio nas costas, o corpo ressecado do Zé Maximiano até a tal gruta afastada, para que ele não ficasse assombrando o povo. Para chegar à gruta tinha que se atravessar um córrego, e Corpo Seco não atravessa água.

 

            O padre de Monteiro Lobato, para proteger Pedro Vicente, entregou-lhe uma vara de marmelo benzida. Caso a assombração quisesse agarrá-lo era para bater no Corpo Seco com a vara até ele soltar. Depois de uma longa caminhada, Pedro Vicente chega à gruta, deixando o corpo do Zé no chão, e virando-se para ir embora. É então que o Corpo Seco agarra Pedro dizendo que não o deixaria partir, pois era para os dois ficarem ali juntos, para sempre. Pedro pegou a varinha de marmelo benzida pelo padre e bateu com muita força, repetidas vezes, até que a assombração soltou-lhe e ele conseguiu fugir dali, para nunca mais voltar. É a história que se conta nessa localidade.

  

            Na Trilha do Bosque da Uva, Colombo, Paraná. Contam outra história de um Corpo Seco, que fica na região metropolitana de Curitiba, Paraná.

 

            Era uma vez um menino chamado Marcelo, filho de fazendeiros que moravam num sítio na cidade de Colombo. Este garoto tinha sérios problemas neurológicos: hiperatividade e déficit de atenção. Mas os seus pais não tinham paciência com ele, pois toda a vez que o menino aprontava na escola ou tirava notas baixas seu pai dava surras com chicotes. Com o passar do tempo o garoto cresceu e virou um rapaz.

 

            Os Seus pais pressionavam este moço para passar no vestibular do curso de Direito da UFPR. No dia do resultado, o casal de fazendeiros descobriu que seu filho não foi aprovado. Assim, de noite, seu pai deu várias chicotadas em Marcelo. De madrugada o rapaz resolveu se vingar: pegou uma espingarda e atirou na sua família. Os empregados da fazenda acordaram e chamaram a polícia. Marcelo foi preso e transferido para a penitenciária de Piraquara. Lá ele suicidou-se.

 

            A sua alma chegou ao inferno, mas nem o diabo quis e o seu corpo foi expulso do cemitério pois nem as outras almas e nem os bichos da terra permitiram que ele continuasse lá. Assim o morto-vivo caminhou até a sua antiga residência, que era numa fazenda em Colombo. Então o seu corpo secou e ele passou a dormir em troncos ocos de árvore de dia e saia vagueando todas as noites.

 

             Um certo dia este zumbi estava dentro de um tronco de uma árvore, quando escutou a conversa de um casal. O rapaz falou assim para a moça:

            - Não passei no vestibular, quando a minha família souber, não saberei o que fazer: Será que mato os meus pais, ou me suicido?

            Desta maneira a jovem respondeu:

            - A solução é não fazer nada. Por favor, não faça nenhuma besteira!

            De repente, a moça se afastou. Aproveitando a oportunidade, Marcelo saiu de dentro da árvore e exclamou para o rapaz:

            - Boa tarde! Com licença!

            O rapaz exclamou:

            - Quem é você? Parece uma assombração!

            Marcelo explicou :

            - Eu sou, realmente, uma assombração. Virei Corpo Seco, pois matei meus pais porque eles brigaram comigo por não ter passado no vestibular. Por favor, não mate a sua família! Pois, você acabará como eu!

            Então, após escutar estas palavras, o rapaz saiu correndo.

            Alguns dias depois, o mesmo moço surgiu com uma corda no mesmo lugar. Ele colocou a corda no pescoço para se suicidar. O zumbi, que observava tudo, tomou o caminho da estrada para avisar a namorada do suicida. Desta forma a pretendente do rapaz chegou ao local e conseguiu evitar a tragédia.

            Reza a lenda que este Corpo Seco, até hoje, continua vagueando pelas fazendas de Uva da cidade de Colombo.

 

PROF. KIBER SITHERC

 

 

 

 

 

 

kiber-sitherc@sapo.pt
publicado por professorkibersitherc às 02:44

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

pesquisar
 
favoritos

A ORIGEM DO RISO

mais sobre mim
blogs SAPO