Esta lenda é originária de Cuiabá, Brasil. Foi divulgada em primeira mão por Joaquim Ferreira Moutinho, no seu Livro " Província de Mato Grosso” em 1834.
A varíola que assolou e dizimou quase a totalidade da população de Cuiabá, após a guerra do Paraguai, provocou vários incidentes dramáticos, uns caricatos, outros, mesmo em meio ao terror e lendários e inverosímeis.
Chá de erva-de-cão, feito de fezes de cachorro que, segundo acreditavam na época, era tiro-e-queda para curar bexiga, até varíola negra, já se tornara inócuo para debelar a peste.
Morria gente como farinha. E o cemitério do Cai-cai, onde enterravam os bexiguentos não chegava a comportar tantos cadáveres, nem era possível abrir covas suficientes, num só dia, para tantos mortos.
Resolveu-se, pois, incinerar aqueles, para os quais não houvesse jazigo suficiente.
Depois de empilhados, eram queimados pelos soldados do batalhão de artilharia, que, num trabalho de auxílio, varejavam as casas, à cata de defuntos ou moribundos.
Certa vez, um soldado encontrou um doente, tipo morre-não-morre e achou por bem levá-lo para junto daqueles que já haviam expirado, para que aguardasse a própria incineração junto às pilhas de cadáveres. Tratava-se do português José Manuel, residente na rua 13 de Junho, antigo bairro do Lavra-Pau. Era já o anoitecer, por isso, os praças adiaram a cremação para o dia seguinte.
José Manuel, ao despertar horrorizado, no meio das carnes pútridas da peste, invocou o Senhor dos Passos, prometendo erguer-lhe uma capela, se conseguisse reunir forças para atingir a sua casa. Aí chegando, deparou-lhe o vandalismo dos que saquearam e depredaram-lhe o modesto quarto. Mas, atirado a um canto, lá estava o seu colete velho, onde escondia todas as economias.
Cumpriu a promessa, mas coube-lhe para sempre o apelido de Manuel Cova.
PROF. KIBER SITHERC