O cumberlandismo é um sistema de adivinhação curiosíssimo. O nome provém de Stuart Cumberland, talvez o primeiro que o descobriu, estudou e praticou em exibições públicas de ilusionismo. Ao contrário do que afirma grande número de prestidigitadores, para os quais não é mais do que simples transmissão ou leitura do pensamento, o cumberlandismo é um sistema de adivinhação por contacto, ou seja como for, uma falsa telepatia teatral. Falsa, mas não enganadora, pois aqueles que a praticam fazem-no conscientemente e sem ocultar ao público que se trata de um estratagema, de um fenómeno de natureza psicomotriz, mediante o qual conseguimos aperceber-nos dos movimentos totalmente inconscientes de outra pessoa.
Segundo Henri Durville, famoso autor metapsíquico, o fenómeno pode explicar-se da seguinte maneira: “Imagine-se que se trata de localizar um objecto que alguém escondeu no bolso do casaco do segundo espectador da quinta fila. O ilusionista pegará na mão do seu guia, se possível uma adolescente, e dir-lhe-á em voz alta:
- Por favor, menina, concentre-se agora no que vamos fazer. Pense unicamente no objecto que escondeu e concentre o seu pensamento no local onde o colocou. Pronta? Vamos a isso.
Dito isto, o ilusionista começa a avançar lentamente, sempre que não houver resistência, o que indica que se encontra no caminho certo. Continua a andar, nas pontas dos pés sem soltar a mão da sua ajudante circunstancial, que continua junto dele. Ao andar, o ilusionista balança suavemente o corpo, com suma lentidão. De repente, ao chegar à quinta fila, pára, com certa hesitação. Tenta seguir para diante, mas inconscientemente, a mão que segura entre as suas opõe-lhe certa resistência, pormenor esse que lhe serve de indicação; chegou finalmente ao sítio. Ora bem, estando na quinta fila, lugar onde se encontra o portador do objecto, o ilusionista põe em prática a sua capacidade teatral, exige atenção e, quando o consegue, já em silêncio, o mesmo procedimento e a mesma contracção inconsciente servem-lhe para compreender que o objecto que procura se encontra no bolso correspondente. Assim, ao passar adiante dos espectadores daquela fila, o ilusionista, como que assaltado por um pensamento repentino e ante a estupefacção do espectador o objecto anteriormente nele escondido”.
Como conseguiu? De uma maneira simples muito simples. O cumberlandismo, sempre espectacular e destituído de truques, baseia a sua técnica nos movimentos suaves, inconscientes e, portanto, involuntários que correspondem à testemunha, de cuja mão se vale o experimentador para chegar a conhecer a realidade. Trata-se, é evidente, de uma manifestação de falsa telepatia. Em certos casos, contudo, o falso predomina sobre o telepático, pois neles se conta a cumplicidade de um espectador, que graças aos discretos gestos das mãos, à posição do pé ou à forma de fumar um cigarro, indica ao ilusionista a direcção a seguir, a fila onde se encontra a pessoa portadora do objecto e inclusivamente o assento que ocupa.
Na realidade, todo o acto psíquico verdadeiro possui uma carga inconsciente exteriorizada por meio de manifestações quase imperceptíveis que podem ser captadas, no entanto, e de um modo também inconsciente, por um psicólogo, o que demonstra a assombrosa hiperestesia de que é capaz a maioria das pessoas. Qualquer reflexo fisiológico pode ser apercebido por outra pessoa, se houver um contacto corporal. Por este meio tão simples chega-se a conhecer o pensamento alheio. O tal fenómeno também se chama cumberlandismo.
O cumberlandismo é algo que se aprende. Com a prática, você poderá tornar-se num óptimo perito. Apresentarei um exercício muito simples. Arranje alguém para colaborar consigo, torna-se mais fácil, uma jovem adolescente. Diga para se colocar no meio de dois vasos, móveis, ou outros objectos que dê para esconder algo. Esconda-se ou vire-se de costas e diga para ela esconder um determinado objecto. Depois, olhe intensamente para ela. Diga para ela pensar onde está o objecto escondido. Diga que vai captar por telepatia onde ela o escondeu. Ao olhar intensamente para ela e para toda a sua fisiologia ela própria inconscientemente lhe vai indicar de que lado se encontra o objecto escondido, no lado esquerdo ou no lado direito. Os pés em geral podem apontar para o sítio certo, apesar do corpo se inclinar no sentido inverso, olhando fixamente nos olhos, ela poderá julgar que está tentando captar a mente dela, o que na verdade você captará é o seu olhar, e o olhar dará inconscientemente a indicação do lado onde se encontra o objecto. Com a prática poderá acertar sem margem de erro, ou seja 100%.
PROF. KIBER SITHERC