Nos últimos anos, o Município do Peso da Régua tem vindo a homenagear as mulheres que pelo contributo humano e profissional se têm destacado no âmbito do projecto global de desenvolvimento do concelho. Essa homenagem tem coincidido com a comemoração do Dia Internacional da Mulher.
No ano de 2011 a homenagem recaiu sobre as Rebuçadeiras da Régua, em reconhecimento da importância do contributo dado para a história cultural que identifica o concelho do Peso da Régua, evidenciado a partir da década de 30.
A homenagem teve lugar no dia 4 de Março de 2011 (Sexta-feira), pelas 15H00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.
Quem chega à Régua de comboio, ou pela sua bonita e centenária Estação dos Caminhos de Ferro, imediatamente a seguir ao ranger das carruagens anunciando a paragem, inevitavelmente, ouve um apelo único de vozes de mulheres de sotaque tipicamente duriense:
- Olha ó rebuçado da Régua, levem rebuçados da Régua.
- Ó meu amor não vai uma saquinha ?...
De bata branca e lenço da mesma cor, colocado de forma característica na cabeça, lá estão, ainda hoje, as rebuçadeiras da Régua no Largo e na Gare da Estação, vendendo ao forasteiro que chega ou ao patrício que parte, este ex-libris gastronómico da cidade.
Rebuçadeira é uma profissão que se imagina tão antiga quanto a iguaria, contudo não há ao certo uma data exacta para a origem do fenómeno e do negócio, da mesma forma que cada rebuçadeira guarda o seu segredo de confecção como sendo o tesouro da sua vida.
Os rebuçados da Régua são também centenários, segundo o testemunho de Ermelinda Mesquita - a "Ermelinda Rebuçadeira" - uma das mais antigas e carismáticas rebuçadeiras da Régua, famosa pelos aromas dos seus rebuçados, e que na esmerada cozinha onde tudo acontece, foi deixando as mãos trabalhar e a saudade recordar...
- Do que se sabe, primeiro, os rebuçados começaram por ser vendidos nas festas locais e das redondezas; havia dois vendedores muito conhecidos - o "Prosa" e o "Cândido Rebuçadeiro" - e talvez só depois tudo tenha começado".
Aprendiz de D. Maria Adelaide, a Ermelinda Rebuçadeira começou bem cedo, na década de 40, no característico restaurante da gare da Estação...
- À hora dos comboios éramos quatro moças de bata verde (na altura era assim) - uma vendia água em bilha, que custava nessa altura 15 tostões; outra vendia em cantarinha, a copo, e outra ainda andava com o tabuleiro dos caramelos, das bolachas e da fruta, e a última vendia os nossos rebuçados da Régua - 3 pacotes 5$00. Já lá vai muito ano... concluiu a D. Ermelinda com a nostalgia de uma profissão de que se orgulha, apesar de um percurso de vida difícil e marcado no olhar e nas mãos enrugadas de tanto moirejar, mas não sem, entretanto, falar de dentro, recordando...
- Era uma juventude maravilhosa... foram os melhores tempos da minha vida... aos Sábados e Domingos era a correria para o baile dos Bombeiros." ...
Depois de o açúcar em ponto com duas cascas de limão e... (o tal segredo) ter passado para a branca pedra de mármore untada com margarina, e daí para o plástico esticado na mesa, ainda a ferver, as mãos, indiferentes à dor, vão cortando os rebuçados um a um, rápida e habilmente, para depois os embrulhar em forma de autênticos laçarotes que saem das mãos desta senhora, que chegou a ensinar muitas outras da actual geração de rebuçadeiras.
PROF. KIBER SITHERC