O tratamento do tabagismo apresenta aspectos psicológicos muito semelhantes aos de alcoolismo, embora, geralmente de forma muito mais branda. Muitas pessoas conseguem deixar de fumar sem nenhuma ajuda alheia. Muitos dos fumadores recorrem à terapêutica substitutiva, chupando rebuçados (balas) em vez de mamar charutos ou cigarros. A hipnose, em todo o caso pode suavizar, apressar e facilitar esse desmame em muitos fumadores inveterados.
O condicionamento repulsivo no caso do vício do tabaco pode ser à base de gasolina. Há hipnotistas que se servem de condicionamentos mais extravagantes, desnecessários. O gosto de gasolina basta para incompatibilizar um fumador com o seu vício.
Certa senhora, tendo recebido um condicionamento repulsivo desse tipo, justificou a associação do gosto do cigarro ao cheiro de gasolina, declarando que sentia o cheiro da benzina de isqueiro, sempre que levava um cigarro à boca.
Eis um exemplo dessa sugestão: “Preste atenção às minhas palavras. Obedecerá a todas as minhas sugestões na ordem em que foram apresentadas. De agora em diante sentirá uma profunda repulsa pelo cigarro, pois todo o cigarro que levar à boca, não importa a marca, terá gosto de gasolina. Acontece que, independentemente desse gosto de gasolina, você não quererá mais saber de fumar. Não sentirá mais necessidade do fumo. Se, porventura, no princípio, se impacientar por falta de cigarro, poderá chupar uma bala (rebuçado) e ficar perfeitamente calmo e apaziguado. Muito em breve, também os rebuçados tornar-se-ão perfeitamente dispensáveis. Você passará muito bem sem fumar. A sua saúde e os seus nervos beneficiarão com isso extraordinariamente. Você sentir-se-á plenamente compensado. Nunca mais tornará a fumar, etc.”
Antes de acordar o paciente, repete-se-lhe a sugestão da memória pós-hipnótica. Ao paciente acordado oferece-lhe em seguida um cigarro.
Provavelmente não se mostrará muito inclinado a fumar. E se levar o cigarro à boca sentirá o gosto sugerido. Nos casos em que o tabagismo tem as suas raízes numa oralidade de tipo primário e incorporação voraz do objecto odiado, fazendo um jogo de auto-destrutivo, o condicionamento repulsivo não somente não resolve o problema, como ainda pode estimular as determinantes masoquistas orais do vício. Aconteceu uma declaração de um enfisemático, inconscientemente empenhado na auto-destruição. “Não é preciso sugerir-me repulsa pelo cigarro… Não existe nada mais repugnante para mim… O fumo dá-me nojo… Mas esse nojo não consegue afastar-me do vício. Diria, que ao contrário, ainda o alimenta mais”. O recurso terapêutico em tais casos é a psicanálise de duração indeterminada.
O mais importante da hipnoterapia sugestiva, como de qualquer outra, é a reeducação do inconsciente do paciente. E reeducar significa ajustar ou reajustar o indivíduo à realidade da vida. A psicanálise facilita substancialmente os expedientes da reeducação. Todavia, mesmo sem o concurso especificamente analítico, com hipnoterapia funcional sugestiva, já se conseguem resultados extraordinários.
O êxito hipnoterapêutico exige por parte do hipnotista, além da capacidade psicológica e técnica, uma decidida dedicação à causa do paciente e uma firme resolução de curá-lo pela hipnose, ainda que as extensas e repetidas sessões. A lei do menor esforço e o comodismo neutralizam as melhores chances terapêuticas nesse sentido.
Por esse lado, o hipnotista de palco leva a vantagem do êxito compulsório. Um fracasso em público pode significar, além do transtorno comercial e teatral momentâneo, o fim de uma carreira. O hipnotizador de palco, ao contrário do seu colega de gabinete, não pode dar-se ao luxo de fracassar. E nem sequer aludir à possibilidade de um insucesso ao apresentar-se em público. A mesma táctica tem de ser usada pelo hipnoterapeuta. Ele tem de retribuir e confirmar a fé que nele deposita. Equivale a dizer que não unicamente o hipnotista tem de estar convencido da possibilidade da cura, mas também o paciente.
Diz Sadler a propósito: “O paciente tem de estar convencido de que vai ficar bom. Ideia essa que lhe é inculcada na mente até que se lhe transforme numa convicção, a qual, por sua vez, é a base da sua cura”.
Referindo-se à cura por acção sugestiva, Alexis Carrel alude aquela “sensação súbita de cura em segundos, em minutos ou, mais extensa das hipóteses, em poucas horas: cicatrizam-se feridas, desaparecem, como por encanto, sintomas patológicos, restauram-se apetites… são curas que se caracterizam sobretudo por uma extraordinária rapidez da restauração orgânica”.
Sabemos que as curas hipnóticas se caracterizam notoriamente pela sua acção aceleradora sobre os processos orgânicos da restauração física.
PROF. KIBER SITHERC