Ali florir e chorar,
Diz a lenda que tem
Uma história singular.
Abraçada àquela cruz,
Seja verão ou seja inverno,
Ela procura na luz
Morto amor, amor eterno.
Que, em outros tempos passados,
Eram ali os perigos
Muito grandes, desusados.
De espinhos assim tão altos,
Que o vulgo a procurava
De noite, para os assaltos.
Os cravos, o malmequer,
E as fontes, sequiosas,
Acabavam por morrer.
Que tal se passava assim?
Foi o caso: — em certo dia...
A lenda mo diz a mim.
Pai de Aghar, morena linda,
Tinha ali o seu tesoiro
Feito de ouro e prata infinda.
Guardada para quem fosse
Tão real como a princesa
E de olhar assim tão doce.
Nenhum ao pai agradou;
Os dias longos ficaram
E Aghar com eles ficou.
Mas tão triste e tão chorosa,
Tão longe de si, também,
Que a vida lhe foi penosa
Junto do pai e da mãe.
Mas um dia, certa vez,
Passou ali, por acaso,
Um valente português,
Que só buscava, afinal,
Paz e amor naquela terra.
A paz, talvez não tivesse,
Mas amor então achou,
Nos murmúrios duma prece
Que a princesa ali cantou:
“Lá de longe ou daqui perto,
“Traz-me, às horas do sol-pôr,
“As areias do deserto;
“Da minha pátria de além,
“Onde as águas peregrinas
“De poucas, sabem tão bem...
Era doce, mais que doce
Aquele cantar tão triste,
Que, mesmo assim, talvez fosse
O amargor de quanto existe,
Nas voltas dessa vereda,
E se alguém buscou, primeiro,
Foi Aghar, numa alameda.
Levou-a, depois, consigo;
E cada passo era um passo
Mais longe de qualquer perigo.
Por Allah, que tudo vira,
Ao cristão, alma perfeita,
Pronto, a vida ali lhe tira.
Os ladrões, que mouros eram,
À voz de Allah, num momento,
Logo então ali puseram
Uma cruz por alçamento.
Também ao lado encantou,
P’ra sempre e de que maneira!,
A mulher que nunca amou,
A moira, numa roseira.
Hora a hora, dia a dia,
E a roseira, soluçando,
Seus longos braços abria
De modo que nunca mais
Se viu dela despegada
Por abraços tão fatais
Seja verão ou seja inverno,
Vê, ao romper da manhã,
Aquele amor sempre eterno