Quem poderá ser telepata? E clarividente? Será preciso nascer com dons fora de comum?
Essas são as perguntas que muitas pessoas fazem. Na verdade não se nasce telepata, nem tão pouco clarividente. Há pessoas que desenvolveram essas faculdades muito cedo, é o caso de Kreskin e de Sybil Leek. Desde muito cedo, ainda crianças exercitaram as suas mentes em exercícios por influências dos familiares.
Um caso extraordinário de infância aconteceu com a Sybil Leek. Filha de pais ocultistas, desde que nasceu foi preparada para a telepatia; clarividência e todos os fenómenos psíquicos.
Igualmente aconteceu com o Kreskin. Vejamos o que lhe aconteceu sobre a sua infância:
“Segue-se Huckle Beanstlak. Para os que não o conhecem pelo nome, quero explicar que se trata do velho jogo do “Frio ou Quente”. Um dos jogadores sai da sala e os restantes escondem uma sacola de feijão. O jogador volta e põe-se a procurar a sacola, enquanto a classe grita: “Está ficando mais quente”, ou “ficando frio”! Eu estava então na quarta série. Não seria óptimo, perguntei a meus pais, se o objecto pudesse ser encontrado sem orientação, limitando-se os que o escondiam a pensar nele? Com a bênção da inocência, eu ignorava as regras, o que podia e o que não podia ser feito. Tentei com os meus pais e não tive sucesso, naturalmente. Eles desinteressaram-se.
Mas persuadi Joe (o meu irmão) a tentar. Forcei-o literalmente, a praticar comigo durante uns quatro meses. No final desse período eu era capaz de encontrar quase todos os objectos de nosso pequeno e desarrumado quarto, sem que ele dissesse “frio” ou “quente”. Não tinha a menor ideia do que estava fazendo, nem do quanto a leitura de sua expressão facial me ajudava (bastante, é provável), à medida que eu me aproximava do objecto, mas percebo agora que às cegas principiava a adestrar-me para a sensibilidade e a percepção extra-sensorial.
Segundo a mitologia oriental o Homem tinha todas essas faculdades: telepatia, clarividência, precognição, etc. mas começou a usar esses poderes para o mal e de maneira egoísta. Então, os deuses castigaram o homem, retirando-lhe todos esses poderes psíquicos.
Os orientais têm razão da declinação dos poderes psíquicos, devido ao desenvolvimento da civilização urbana. Os sentidos quando não são exercitados ficam atrofiados, o mesmo se passa com as nossas faculdades. Quando essas faculdades são exercitadas, desenvolvem-se.
Os animais por viverem no seu habitat têm os sentidos mais apurados e as faculdades mais desenvolvidas. Os povos tribais e arcaicos, vivendo em contacto com a natureza, têm percepções muito desenvolvidas e, faculdades desconhecidas pelos civilizados citadinos.
Bem cedo as sociedades de pesquisas psíquicas de França e da Inglaterra tentaram transmitir à distância cores e símbolos. Verificaram que certas formas figurativas, certas cores, se impõem telepaticamente, umas mais do que outras, ao nosso sentido. São, portanto, mais sensíveis ao entendimento.
A filósofa Yvonne Duplessis estudou as relações da percepção paranormal com a psicologia e a filosofia. Prosseguindo as investigações de R. Warcollier sobre os diferentes estímulos, ela obtém os melhores resultados nas suas experiências de transmissão de cores com o vermelho, o verde e o preto. O azul e o amarelo dão resultados semelhantes às possibilidades do acaso. Qualquer que seja o símbolo associado à cor, o vermelho é o mais dominante e o amarelo o menos.
Yvonne Duplessis repetiu estes testes com cegos acidentalmente privados da vista (conservando, portanto, uma lembrança das cores) e apercebeu-se de que eles não captavam com a mesma intensidade que os sujeitos vulgares. O amarelo tornou-se a cor mais dominante e o verde foi parar ao último lugar. Uma das hipóteses formuladas por Yvonne Duplessis, seria de que o amarelo evocaria ao cego uma recordação de luminosidade e teria uma força psicológica importante.
Sabendo-se que os factores afectivos, sobretudo aqueles que correspondem a temores ou superstições, desempenham um papel inibidor e modificam os resultados (as borboletas pretas são raramente recebidas por um sujeito); determinados símbolos são dominantes em função de particularidades fortuitas, tais como o conteúdo cultural específico de cada país (nos Estados Unidos, com as cartas Zener, uma cruz, um quadrado, uma estrela, um círculo, duas linhas paralelas onduladas, o que mais se impõe é a estrela, esse símbolo que figura na bandeira Norte-Americana), deduz-se que a percepção paranormal das cores e das formas está ligada a condições psicológicas.
Yvonne Duplessis revê oportunidade de efectuar uma breve experiência com Uri Geller. Tratava-se de descobrir a cor das cartas dum jogo de vinte e cinco, tocando-lhe ligeiramente, e depois impondo as mãos por cima, conseguia determinar as cores com poucos erros. Uri Geller declarou que a única impressão que sentia era visual; via a carta e a cor sem passar por sensações térmicas ou outras.
Mas se a natureza dos estímulos é importante, a maneira de os transmitir não é o menos. Yvonne Duplessis efectuou experiências de sugestões à distância com um número variável de sujeitos e agentes. Obteve os seguintes resultados: efeito positivo com dois agentes e negativo com três; no caso de um grupo de agentes, os efeitos parecem adicionar-se; as preferências afectivas não intervêm (se um sujeito detesta o verde, receberá, não obstante, telepaticamente essa cor). Só o dominante da cor e do símbolo e a escolha dos agentes e dos sujeitos intervêm. Estas experiências estabelecem não só a existência do fenómeno “psi” como indicam igualmente “que ele não se propaga ao acaso”.
Vejamos um caso extraordinário de telepatia, considerado verdadeiro que aconteceu na Antiguidade.
Creso, rei da Lídia, pode ser considerado o mais antigo “Experimentador” em parapsicologia. Nessa época, Ciro, rei dos persas, acabara de vencer o reino dos Medos. Creso sentiu-se ameaçado por esta conquista, temendo que o futuro objectivo de Ciro fosse o seu próprio reino.
A fim de impedir esta eventualidade, decidiu-se a atacar primeiro os Persas, antes que estes se tornassem demasiado poderosos. Para ter a confirmação desta estratégia, precisava consultar os oráculos, que ele decidiu antes de mais pôr à prova, a fim de escolher o mais dotado de entre eles. Escolheu seis gregos e um egípcio e, no mesmo dia, enviou sete mensageiros, que tinham por missão apresentarem-se no centésimo dia após a sua partida, cada qual a seu oráculo, e perguntar: “Que faz neste momento o rei Creso, filho de Aliate?” As respostas deviam ser escritas e levadas imediatamente a Creso.
Quando este conheceu as respostas, ficou profundamente decepcionado: eram todas falsas… à excepção da pítia de Delfos. Esta tinha declarado ao mensageiro, mesmo antes de este começar a falar: “Sei contar as areias do mar e medir os oceanos. Sei escutar os que se calam e adivinhar o que dizem os mudos; aqui tens: aos meus sentidos chega o odor duma tartaruga escamosa que neste momento ferve ao fogo com a carne de um cordeiro, num caldeirão de bronze, e de bronze é também a sua tampa”!
Creso declarou:”O único verdadeiro oráculo está em Delfos”. Efectivamente o oráculo tinha adivinhado o que o rei fazia no centésimo dia, no momento preciso em que o mensageiro o consultava. Após a partida dos emissários, Creso perguntara a si mesmo o que poderia fazer que fosse impossível de adivinhar e, chegado o dia, tivera a extravagante ideia de preparar uma receita inverosímil: ele próprio esquartejou uma tartaruga e um cordeiro, que fez cozer num caldeirão de bronze, com tampa de bronze.
Quando, no ano da Redenção de 1566, o Cardeal Ghislieri foi elevado ao trono pontifício com o nome de Pio V, a situação da Cristandade era angustiante. Com efeito, fazia aproximadamente um século que os turcos avançavam sobre a Europa, por mar e através dos Balcãs, no intuito insolente de sujeitar à lei do Islão as nações católicas, e sobretudo de chegar até Roma, onde um de seus sultões queria entrar a cavalo na Basílica de São Pedro.
Mas o pior dos males não vinha de fora. O flagelo do protestantismo fizera apostatar a Inglaterra (subjugando a Irlanda e ameaçando a Escócia), continuava a alastrar-se pela Alemanha e convulsionava a França. A esse quadro de desgraças somava-se a cobiça dos reis e príncipes católicos, que já não eram movidos por aquele zelo da Fé e adesão à Igreja, que levara seus antepassados a atender à convocação da cruzada aos brados de "Deus o quer!". Alguns não hesitavam ante vergonhosas e espúrias alianças com os próprios turcos, para investir contra outras nações católicas, visando conquistas territoriais, glória mundana e poder.
No próprio ano de sua elevação ao pontificado, comunicou ele ao Rei da Espanha e ao Imperador seu intento de promover uma aliança dos príncipes contra o sultão.
O papa Pio V, teve uma visão que se revelou ser perfeitamente exacta. Visionou a vitória da frota aliada (Espanha, Veneza, Vaticano), sobre a poderosa armada turca.
Era a famosa batalha naval de Lepanto. A visão teve lugar no momento preciso em que terminava o combate à entrada do golfo de Corinto. Os documentos do Vaticano, estudados por J. Grente, precisam: “Eram cerca de cinco horas quando a batalha de Lepanto chegou ao fim. No mesmo momento, a 7 de Outubro de 1571, Pio V, que, após a partida dos navios cristãos, redobrara as suas preces e mortificações, estava a examinar com alguns prelados as contas do tesoureiro Bussotti.
De repente, como que possuído por uma força invencível, levantou-se, ainda imerso nos seus pensamentos, aproximou-se da janela, abriu-a, olhou para a leste, e, depois, virando-se para os que estavam a seu lado, os olhos brilhantes de êxtase, disse: “Deixemos os negócios e agradeça-se ao Senhor: a frota cristã alcançou a vitória”.
Mandou sair os prelados e dirigiu-se imediatamente para o seu oratório. Mas Bussotti e os seus colegas surpreendidos com aquelas revelações tão inesperadas como animadoras, anotaram o dia e a hora. Na sua excitação, apressaram-se a dar a notícia a vários, tudo o que acontecia nesses numerosos serões de transmissão, cardeais e mais pessoas, que igualmente anotaram a data”. A confirmação desta visão só chegou após duas longas semanas de espera, trazida por um mensageiro que D. João de Áustria enviara do local da batalha de Roma.
Uri Geller (em hebraico: אורי גלר), nascido Gellér György (Tel Aviv, 20 de Dezembro de 1946), é um controverso personagem israelita, naturalizado britânico, que se tornou famoso nos anos 1970, ao se apresentar em programas de televisão, realizando demonstrações dos seus alegados poderes paranormais - telecinésia, radiestesia e telepatia.
Tais demonstrações incluíam dobrar colheres, identificar objectos ocultos e parar ou acelerar ponteiros de relógios à distância. Geller afirmava que esses efeitos eram provocados pela força de sua mente e pelo poder de sua vontade, e que ele recebeu estes poderes de extraterrestres. Em seu site Geller conta a sua versão de como ele conseguiu seus alegados poderes.
São muitos os críticos, entre os quais se destaca James Randi, segundo o qual Geller não é dotado de paranormalidade. Para sustentar a sua tese, Randi repetiu várias vezes os experimentos de Geller, obtendo os mesmos resultados surpreendentes, mas sempre afirmando ter usado apenas truques e ilusionismo.
Geller levou à justiça várias pessoas que alegavam que ele não possuía poderes paranormais, e perdeu em todas as causas.
Em cada país, foi cuidadosamente controlado, testado analisado com os instrumentos de medição mais aperfeiçoados. Muitos investigadores parecem convencidos da realidade dos poderes e já não exprimem reservadas acerca do seu caso. Todavia, uma fraude, uma imperceptível manipulação, uma tocagem hábil são sempre possíveis. Determinados ilusionistas, como Randi, nos Estados Unidos, proclamam firmemente que Uri Geller é um terrível vigarista. Mas vejamos primeiro algumas experiências realizadas por Giller.
Numa visita a Berkeley (Estados Unidos), pediu que escrevessem o nome duma cor num quadro preto, enquanto virava a cabeça. Uma jovem escreveu a palavra “azul” e depois apagou-a do quadro. Pediu então ao público que pensasse intensamente no que tinha sido escrito logo que ele tivesse acabado de contar até três. Por duas vezes disse que não conseguia e, após um longo silêncio, declarou: “Bem, vou arriscar. Vejo o azul”. Aplausos. “Esperem!”, gritou ele, erguendo as mãos. “Queria conhecer a pessoa que pensou amarelo”. Um jovem sentado nas primeiras filas, sobressaltou-se e levantou a mão. “Por favor, não faça mais isso, que me perturba muito”. Após algumas outras experiências concluentes, explicou o que se passava: “Tenho na cabeça uma espécie de ecrã de televisão, e quando recebo qualquer coisa isso desenha-se lá”.
Um pouco mais tarde, fez demonstrações de telecinésia, anéis, chaves torcidas, relógios que começam a funcionar, etc., demonstrações que muitas pessoas puderam ver na televisão. Terminou este sarau propondo-se para conduzir um carro nas ruas de Berkeley, com os olhos vendados, utilizando telepaticamente a vista dos outros passageiros. No dia seguinte, as testemunhas declararam que a experiência decorrera muito bem. Um investigador americano, Andrew Weil, que assistira a estas experiências, foi consultar James Randi, cognominado “O Assombroso”. Este não acreditada nos poderes de Uri Geller. Em primeiro lugar começo por um dos números favoritos de Geller: em dez caixas de bobinas de filme descobrir, sem lhes tocar, a que está cheia no meio das outras nove vazias. Andrew Weil deveria manipular as caixas sob os olhares de Randi. “Vou eliminar as que estão vazias. Quando designar uma, dizendo que está vazia, você retira-a e coloca-a ao lado com cuidado, para que o ruído nada me possa revelar. Fez passes sobre as caixas metálicas, como Geller fizera na televisão.
Weil, conta: “Eliminou uma caixa, depois outra, até ao momento em que apenas restavam duas. Passou a mão por cima de cada uma, como se tacteassem à procura de emanações provenientes do metal. “Esta está vazia”, disse ele por fim, indicando a caixa da esquerda. Retirei-a. Estava mesmo vazia. A caixa que ficara estava cheia de porcas e cavilhas. Não tinha tocado nas caixas, nem tão pouco sacudira a mesa. Fiquei estupefacto”.
Randi, mostrou a Andrew Weil o princípio deste número, e pediu-lhe que não o revelasse. “Era simples… tão simples que um garoto o faria sem custo. De facto, Randi ensinara este truque a algumas crianças”. Podemos apenas revelar que este número assenta inteiramente numa diferença muito subtil, mas perceptível, entre a caixa cheia e as que estão vazias. Mas é preciso saber olhar. No decurso dum show televisivo, Uri Geller teve um grande número de desaires. Não conseguiu descobrir, entre as caixas de filmes, a que estava cheia de água. Randi explica o que se passou. “Sabem porque é que o show de Geller falhou completamente? Porque Carson, o animador da emissão, é um antigo mágico; fui visitá-lo, e combinámos guardar em lugar seguro os acessórios de que Geller precisava. Bastar-lhe-ia trinta segundos para os falsificar, mas nós não deixámos”. Deste modo, Carson e Randi tinham manipulado as caixas de forma a eliminar a diferença que permitia o êxito deste número.
Quanto aos pregos, Randi pretende que eles já estavam torcidos, e que Geller manipulara de tal maneira que o público acreditou que eles se estavam a torcer. Randi refez a experiência perante Andrew Weil com pregos que torceu à sua frente. Fez o mesmo com chaves. Randi revelou-lhe então o truque: “Só precisei de um momento de distracção sua para falsificar a chave, pressionando-a contra a minha cadeira”. Andrew Weil, espantado, escreveu: “De repente, senti com que força o espírito pode impor a sua própria interpretação às percepções e como pode ver o que espera ver e não aquilo que é inopinado”.
Seguidamente, Weil fez-lhe o teste do desenho fechado em três sobrescritos. Prova concluente. Só existe uma maneira de saber o que está no interior dum sobrescrito sem utilizar poderes paranormais: é preciso, por um momento, pôr as mãos em cima do sobrescrito e servir-se dos olhos. Randi não deu mais pormenores acerca deste número surpreendente. Disse simplesmente: “As pessoas que assistiram à actuação de Uri Geller dizem que ele nunca tocou no sobrescrito. Mas se as interrogar cuidadosamente, o que elas na realidade querem dizer é que ele nunca lhe tocou de maneira susceptível a permitir-lhe saber o que havia no interior. Isso é a base do ilusionismo. Aproveitam-se as mínimas ocasiões para fazer a transferência quando temos a certeza de que as pessoas não vão reparar”.
Um dia, Randi foi testemunha da experiência da palavra escrita no quadro preto: “Uri Geller pediu a uma mulher que escrevesse o nome de uma capital estrangeira. Mas esta, perturbada, escreveu o nome duma cidade americana. Todos os espectadores se mostraram muito contrariados ao verem que ela não seguira as instruções. A dado momento, todas as cabeças se viraram para a fustigar com o olhar, e, precisamente nesse momento, o manhoso Uri Geller deitou uma olhadela ao quadro preto. É tão simples como isso”. No que diz respeito à conclusão dum veículo com os olhos vendados já se conhece bem a técnica das vendas falsificadas e o facto de que a proeminência do nariz permite sempre um pouco de visão.
Que dizer dos testes efectuados em laboratório, tanto nos Estados Unidos como na Europa, por eminentes físicos e investigadores? Para Randi é mais uma evidência: “Os cientistas são as pessoas menos qualificadas para detectarem um embuste; são mais facilmente enganados do que qualquer outra pessoa. Quando se quer apanhar um ladrão, pede-se a outro ladrão, não a um sábio. Se pretende desmascarar um mágico, peçam-no a outro mágico”. O professor de psicologia Ray Hyman (Universidade de Oregon), que lecciona sobre as pseudo-psicologias, passou um dia no Stanford Research Institue a observar Uri Geller: “É um excelente ilusionista”, diz, “mas eu próprio, com a ajuda de simples prestidigitação, consigo imitar a maior parte das coisas que faz. Mas o problema de saber se ele é ou não sério tem menos interesse, a meu ver, do que aquilo que ele nos revela sobre a sua natureza do Testemunho e sobre o modo como a convicção modela a percepção. Uri Geller é um homem importante podemos compreender muitas coisas graças a ele”.
Não se trata aqui de entrar no debate sobre o caso Geller. Se algumas das suas experiências podem ser reproduzidas por ilusionistas, isso não quer dizer que sejam falsificadas. De resto, ainda nunca se deixou atrapalhar nem foi apanhado em flagrante delito de falsificação. Além disso, é sabido que o médium ou o sensitivo são extremamente sensíveis às atitudes do público. Geller tem necessidade de que este acredite nele, que deseje a criação de fenómenos “psi”. Apenas nestas condições se conseguem produzir os fenómenos. Desta maneira se explicaria o seu desaire nesse famoso show televisivo organizado por dois ilusionistas que tudo fizeram para o contrariar, ou pelo menos para evitar o truque. Essa atitude, perfeitamente normal se quisermos conhecer a verdade, provoca um bloqueio. Nesse momento nada se passa.
Por outro lado, Uri Geller obteve êxitos em provas que por si só não se explicam e que nenhum ilusionista consegue reproduzir: torcer à distância metal encerrado em tubos de vidro. Aliás, alguns grandes ilusionistas, com André Sanlaville, rejeitam a possibilidade de falsificação no “efeito Geller” e crêem firmemente nos seus poderes.
Ao longo de toda a sua vida, Freud procurou eliminar “da realidade material o pensamento mágico, criação do desejo humano”. Céptico até 1910, começou a admitir a possibilidade da existência da telepatia perante certos factos inexplicáveis, surgidos no decurso das suas pesquisas. Mas sofreu principalmente a influência de dois dos seus discípulos e amigos, Jung e Sandor Frerenczi. Jung pensava que o conhecimento extra-sensorial era uma das numerosas possibilidades sensoriais pelas quais se podia captar uma informação. Ferenczi, abordando sempre o problema com um grande espírito crítico. Apresentou alguns clarividentes a Freud e pô-lo ao corrente duma transmissão telepática entre ele próprio e um dos seus doentes.
Em 1911, Freud foi nomeado membro correspondente da Sociedade de Investigações Psíquicas de Londres, sociedade que se consagrava exclusivamente ao estudo dos fenómenos parapsicológicos, e depois, em 1915, membro da Sociedade Americana. Efectuou experiências pessoais com Frenczi e a sua própria filha, Anna, mas, prudente, só mais tarde se comprometeu oficialmente no terreno do paranormal.
Só em 1921 Freud adquire um grau de certeza suficiente para tomar posição. Num ensaio, Psychanalyse et Télépathie, declara: “Já não é possível pôr de lado o estudo dos factos ocultos”. Mas este texto só foi divulgado vinte anos mais tarde, por um dos seus colaboradores, Jones, por considerar a sua publicação prematura e perigosa para a época.
Foi só, portanto, em 1922 que Freud tomou publicamente posição. O estudo da parapsicologia sob o ângulo da psicanálise iniciou-se com o seu artigo “Sonho e Telepatia”. Nele estudava um caso de conhecimento paranormal e esclarecia, sob um novo ângulo, a distorção da percepção telepática. Um dos seus correspondentes tinha-lhe escrito a dizer que sonhara que a mulher dera à luz gémeos; ora, no dia seguinte, soubera que a filha da sua primeira mulher acabara de dar à luz, prematuramente, dois gémeos, nessa mesma noite. Freud submeteu o sonho à análise. O desejo inconsciente do sonhador era de ser pai e não o avô da criança que ia nascer. Soubera por telepatia do parto da filha, mas como a consciência não podia aceitar esse desejo secreto e recalcado a censura transpôs e mascarou a informação, exprimindo finalmente esse desejo incestuoso como o desejo de ter um filho de sua mulher. Foi deste modo que houve uma diferença entre o conteúdo manifesto do sonho e o acontecimento real.
Se a telepatia existisse, concluía Freud, as leis do inconsciente (censura-deformação) deveriam então aplicar-se às informações telepáticas. Freud demonstrou, assim, que muitas contradições, aproximações e erros do conhecimento paranormal se poderiam explicar por mecanismos de defesa, segundo as Leis do funcionamento mental, dirigido por necessidades inconscientes.
Freud abordou novamente, em 1925, o tema da telepatia, em “O Significado Oculto dos Sonhos”. A análise poderia revelar, pensava ele, os factores emocionais inconscientes de pessoas implicadas no caso. “Frequentemente tive a impressão, no decurso de experiências à minha volta, que as recordações que comportavam uma forte tonalidade emocional se transmitiam com êxito, sem grandes dificuldades. Se tivermos a paciência de submeter a um exame analítico as associações da pessoa a quem os pensamentos, como supomos, são transmitidos, revelamos correspondências que doutra maneira se conservariam despercebidas. Na base de numerosas experiências, sinto-me inclinado a concluir que a transmissão de pensamento tem grandes probabilidades de se dar no momento em que a ideia emerge do subconsciente… É mesmo possível que mensagens telepáticas recebidas durante o dia só possam chegar à consciência na noite seguinte, por meio dum sonho. Seria então lógico que o material percebido telepaticamente sofresse modificações e as transformações do sonho, como qualquer outro material”.
No mesmo artigo, Freud estudava o problema da vidência. Alguns anos antes, uma vidente anunciara a uma das suas doentes que esta, aos trinta e dois anos, teria dois filhos. Aos quarenta e três ainda não tivera nenhum. Freud descobriu que, nessa altura, o desejo inconsciente da doente era imitar a proeza da mãe, que, estéril até aos trinta anos, começando a desesperar, teve duas crianças antes dos trinta e dois anos. A vidente captou este desejo no espírito da cliente por telepatia, e devolvera-lho na profecia, para a satisfazer.
Muitos casos de vidência podem interpretar-se pela relação telepática estabelecida entre o cliente e o vidente. Este último percebe, pela transmissão de pensamento, o desejo profundo da pessoa que o consulta. Variando alguns pormenores e colocando a realização desse desejo no futuro, dá ao cliente a aparência duma verdadeira “Leitura do futuro”. Contudo, não faz mais do que exprimir elementos ou presentes da vida do seu consultente.
Foi só em 1933 que Freud retomou o tema da telepatia (após um silêncio de oito anos). Em Nouvelles Conférences sur la Psychanalyse. Utilizou parcialmente certas observações contidas noutros ensaios, mas a maior parte das quais não tinham ainda sido publicadas, e fez uma brilhante demonstração da utilização da análise. Freud pôde reconhecer, graças às associações livres dum dos seus pacientes, P., no decurso duma sessão, o conhecimento telepático dum facto, aparentemente vulgar, da sua própria vida, mas que provoca em P. uma grande ansiedade. Era o célebre caso do “Dr. Forsyth”. P. apercebera-se telepaticamente de que Freud desviara parcialmente o seu interesse por ele, ocupando-se muito dum novo paciente que viera de Inglaterra.
É a Freud que cabe o mérito de ter permitido a integração dos fenómenos “psi” no contexto total do homem; Freud, numa carta dirigida a Herreward Carington, em 1921, fez esta surpreendente declaração: “Não sou daqueles que recusam logo à primeira vista o estudo dos fenómenos psíquicos ditos ocultos, por ser anti-científico, indigno dum sábio, até mesmo perigoso. Se me encontrasse no princípio da minha vida científica em vez de estar no fim, talvez não escolhesse outro domínio de investigação, a despeito de todas as dificuldades que ele apresenta”.