Esoterismo, Lendas, Mitos, Parapsicologia, Auto-Ajuda. kiber-sitherc@sapo.pt

19
Mar 10

 

            O menino pulava para lá e para cá no grande sofá da sala de espera. Entre uma cambalhota e outra, esbarrava no vaso amarelo da planta que decorava e a mãe ia ficando furiosa. Na terceira vez em que o pé do moleque quase levou pelos ares os óculos do homem carrancudo que esperava ao seu lado, ela lascou:
             - Se você não parar, o Homem do Saco vai levar você embora.
             E o garoto ficou quietinho até a hora em que anunciaram o nome da sua mãe e os dois entraram no consultório do médico. O terror havia vencido.
 
            Essa estratégia do medo, transmitida oralmente por gerações, tem lá os seus méritos e dá resultados até hoje – o garoto da sala de espera tornou-se um anjinho em segundos. Talvez esse medo seja importante e faça parte do amadurecimento. Mas será que o preço não é alto? É mesmo na base do medo que se controla alguém? Por quanto tempo? E com quais consequências?
 
            A mãe do garoto nem imaginava o que estava fazendo com seu filho. Pudera: ela própria deve ter tido, na infância, seus pesadelos com o Homem do Saco, fosse ele chato ou não. Mas, cá entre nós: cambalhota na sala de espera também já era demais!
 
            Quando somos criança e fazemos coisa errada, metemos o dedo no nariz ou fazemos beicinho e birra em público, a mãe logo adverte:
            - Não faça birra, que vergonha, olha o menino te olhando. Olha o homem do saco. Quem brinca com sombra faz xixi na cama. Quem responde para a mãe a língua não entra no caixão. Olha o monstro, ele vem te pegar se você não se comportar. Olha que tu não vem mais!
 
            Nenhuma criança jamais o viu, mas todas com certeza conhecem o homem do saco. Malvado, carrancudo, ele pega criancinhas que não se comportam bem, coloca num saco de estopa e as leva nas costas sabe Deus para onde.
 
             Como as leis da Física permitem que tantos meninos travessos se apertem naqueles sacos de guardar farinha, eu nunca entendi. Mas nem precisava. Era ameaçar chamar o homem do saco que todo pirralho limpava o prato, tomava banho direito, parava de brincar na terra, penteava o cabelo e não amarrotava a roupa. Uns anjos, só de medrosos.
 
            Derivada dos mendigos que permeiam todas as cidades, esse mito urbano é usado pelas mães para assustar os meninos malcriados que saem para brincar sozinhos na rua.
 
            De acordo com ela, um velho mal vestido, e com um enorme saco de pano nas costas, anda pela cidade levando embora as crianças que fazem "maldade".  Em algumas versões, o velho é retratado realmente como um mendigo, outras ainda o apresentam como um cigano; creio que isso dependa da região do país onde ela é contada.
 
            Há ainda versões mais detalhadas (entendam como cruéis) em que o velho (mendigo ou cigano), leva a criança para a sua casa e lá faz sabonetes e botões com elas.
 
PROF. KIBER SITHERC 

 

 

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publicado por professorkibersitherc às 22:18

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