É um dos mitos interessantes de origem europeia com influências indígenas da Amazónia do Brasil.
A Iara é uma linda mulher morena, de cabelos negros e olhos castanhos. Exerce grande fascínio nos homens, pois aqueles que a vêem banhar-se nos rios não conseguem resistir aos seus encantos e atiram-se nas águas. Os que assim o fazem, nem sempre voltam vivos e os que sobrevivem, voltam assombrados, falando em castelos, séquitos e de côrtes encantadas.
Os cronistas dos séculos XVI e XVII registaram esse mito. No princípio, o personagem era masculino e chamava-se Ipupiara, homem peixe que devorava pescadores e os levava para o fundo do rio. No século XVIII, Ipupiara vira a sedutora sereia Uiara ou Iara. Todo o pescador brasileiro, de água doce ou salgada, conta histórias de moços que cederam aos encantos da bela Iara e terminaram afogados de paixão. Ela deixa a sua casa no fundo das águas no fim da tarde. Surge magnífica à flor das águas: metade mulher, metade peixe, cabelos longos enfeitados de flores vermelhas. Por vezes, ela assume a forma humana e sai em busca de vítimas. Também dizem que é apenas um vestido, ou uma espécie de saia, que ela veste por vaidade e para dar a ilusão de ser metade mulher, metade peixe. Em certos locais, dizem que Iara é um boto-fêmea.
Quando a Mãe das águas canta, hipnotiza os pescadores. É preciso muita reza e sabedoria para tirá-lo do encantamento. Alguns descrevem Iara como tendo uma cintilante estrela na testa, que funciona como chamariz que atrai e hipnotiza os homens.
Um deles foi o índio Tapuia. Certa vez, foi pescar, então, viu a deusa, linda, surgir das águas. Resistiu. Não saiu da canoa, remou rápido até a margem e foi se esconder na aldeia. Mas enfeitiçado pelos olhos e ouvidos não conseguia esquecer a voz de Iara. Numa tarde, quase morto de saudade, fugiu da aldeia e remou na sua canoa rio abaixo.
Iara já o esperava cantando a música das núpcias. Tapuia se atirou ao rio e desapareceu num mergulho, carregado pelas mãos da noiva. Uns dizem que naquela noite houve festa no chão das águas e que foram felizes para sempre. Outros dizem que na semana seguinte a insaciável Iara voltou para levar outra vítima.
PROF. KIBER SITHERC