Procurando um templo para as relíquias, que vasculhou em Jerusalém, Santa Helena cedeu o seu próprio palácio para ser transformado em Basílica, que haveria de se chamar: Basílica da Santa Cruz de Jerusalém.
Se penetrássemos nas brumas da História e retornássemos ao longínquo ano de 270, encontraríamos numa hospedaria de Drepanum, na Bitínia, uma graciosa menina. Cheia de encanto e pudor, era o maior tesouro de seus pais.
Segundo a lenda, de tal modo as suas virtudes resplandeciam, que o Imperador romano Constâncio Cloro, ao ver o seu semblante, decidiu tomá-la por esposa. Desse modo, a jovem Flavia Iulia Helena tornouse imperatriz e deu à luz um filho, a quem chamou Constantino.
Na corte, conheceu a religião cristã e converteu-se. O seu Batismo contrariou muitíssimo o imperador, que a repudiou como esposa. Assim, Helena passou, de repente, de uma situação brilhante para uma existência envolta em sombras. Restava-lhe apenas o consolo do amor que seu filho por ela nutria.
Após alguns anos, porém, Constantino sucedeu a seu pai Constâncio no trono imperial. Encantado, como sempre, pelas virtudes de sua mãe, chamou-a imediatamente à corte, concedeu-lhe o título de Augusta e deu-lhe um suntuoso palácio, em Roma, o Sessorianum.
Como boa mãe, Santa Helena quis aproximar o filho da fé católica. Mas ele relutava, tomado por outras preocupações. Mas com o milagre de Ponte Milvio, Constantino converteu-se ao catolicismo.
Após a proclamação do Edito de Milão – o qual, naturalmente, contou com o concurso de Santa Helena – ela obteve de seu filho uma ordem para a destruição dos templos pagãos que Adriano, muito tempo antes, havia mandado erigir sobre o Calvário e sobre o Santo Sepulcro, a fim de sufocar o culto cristão.
O seu coração, porém, queria mais. Helena não podia suportar o abandono dos Lugares Santos. Assim, tomada de santa coragem, empreendeu uma longa e perigosa viagem, com o intuito de resgatar a memória e as relíquias da Paixão de Cristo.
Santa Helena, como uma arqueóloga dos tempos modernos, começou a vasculhar à procura de relíquias sagradas.
“Dirigindo-se ao Gólgota, os soldados que a acompanhavam viram aquela velha mulher, aquela velha mãe, caminhar entre os escombros, ajoelharse entre as ruínas, e dizer: ‘Eis o lugar da batalha: onde está a vitória? Eu estou sobre um trono, e a Cruz do Senhor no pó? Eu estou em meio ao ouro, e o triunfo de Cristo entre as ruínas? Vejo o que fizestes, demónio, para que fosse sepultada a espada que te derrotou’!”
Com estas palavras Santo Ambrósio relata a chegada de Santa Helena ao Calvário. Tal fé não poderia deixar de ser recompensada.
Conta-se que a cruz de Cristo foi encontrada, juntamente com a dos dois ladrões. Um milagre confirmou o acontecimento:
Havia uma senhora muito doente. Santa Helena pediu que ela tocasse nas três cruzes encontradas. Com as duas primeiras nada aconteceu, na terceira a senhora foi curada, o que confirmou a cruz verdadeira, na qual o Cristo foi crucificado.
Com efeito, guiada pela luz do Espírito Santo, a imperatriz encontrou a verdadeira Cruz do Salvador, bem como as outras relíquias da Paixão.
Conforme narra a tradição, ela ordenou que o Santo Lenho fosse dividido em três partes: deixou uma em Jerusalém, mandou outra para o filho em Constantinopla, e levou consigo a terceira para Roma, com diversas outras relíquias.
Chegando à Cidade Eterna (Roma), era necessário edificar um templo que estivesse à altura de custodiar as santas relíquias e excelentes maravilhas. Santa Helena não vacilou, e cedeu para essa finalidade o seu próprio palácio (o Sessorianum), o qual tinha sido, em épocas anteriores, a residência dos imperadores.
Coordenando pessoalmente os trabalhos, fez com que a sala mais nobre do palácio fosse transformada numa basílica. Com toda a generosidade, cedeu os seus próprios aposentos para serem transformados em capela, em cujo pavimento verteu a terra que havia trazido do Calvário, e onde depositou a relíquia da Cruz.
Tendo-se iniciado grande afluxo de peregrinos, o lugar começou a ser conhecido como Basílica Sanctae Crucis in Hierusalem (Basílica da Santa Cruz de Jerusalém), nome dado pelo facto de ali estar a relíquia da Cruz, bem como a terra do Calvário.
Os romanos, porém, insistiam em chamá-la “Basílica Sessoriana”. Até hoje permanecem as duas denominações.
A Capela das Relíquias, com o passar do tempo, passou a ser chamada “Capela de Santa Helena”, pois ali tinham sido os seus aposentos.
Existem vários documentos que comprovam a descoberta, transladação, conservação e veneração da relíquia da Santa Cruz. E cada fragmento dela retirado ao longo dos séculos foi devidamente registrado.
Também os diversos ritos de Adoração do Santo Lenho o atestam. Nos tempos antigos, o ritual pontifício estabelecia que as cerimónias da Sexta-Feira Santa se celebrassem na Basílica in Hierusalem. Para ela se dirigia em procissão o Pappa, descalço, desde a Basílica de São João de Latrão, acompanhado pelo clero e pelo povo, para adorar o Lenho, considerado a verdadeira Cruz. Também no dia 14 de Setembro, há a Festa da Exaltação da Santa Cruz,
Existem várias relíquias da Paixão que se conservam na Basílica, ali se realizavam – e ainda se realizam – especiais ritos.
Ao longo de seus desasseis séculos de vida, a Basílica sofreu diversas transformações, tornando difícil hoje em dia imaginar como seria a estrutura da Domus Sessoriana. As próprias relíquias, por diversos motivos, foram transladadas para uma nova capela – o Santuário da Cruz – construída no recinto da sacristia.
Com o tempo, outras relíquias foram levadas para a Basílica Sessoriana: o Título da Cruz (tabuleta com uma parte da inscrição “Jesus Nazareno Rei dos Judeus”), um cravo, dois espinhos da coroa, o patíbulo do Bom Ladrão, um dedo de São Tomé, bem como fragmentos da Gruta de Belém e da Coluna da Flagelação.
Por tudo isso, quando o Papa João Paulo II a visitou, em 25 de março de 1979, exclamou: “Este é o verdadeiro Santuário da Cruz de Cristo!”
Na Basílica da Santa Cruz de Jerusalém conservam-se junto ao “Lignum Crucis”, um fragmento da Coluna da Flagelação, um dos cravos, um dedo de São Tomé, um espinho da Coroa e a tabuleta INRI.
PROF. KIBER SITHERC